Dengue: os sinais de alerta para buscar atendimento em caso de emergência (via UOL)
O governo de São Paulo confirmou quatro mortes por dengue no estado desde o início deste ano. As ocorrências foram registradas em Pindamonhangaba (2), Bebedouro (1) e Guarulhos (1).
Em resposta a essa situação, o governo estadual lançou o Centro de Operação de Emergências para enfrentar os casos de dengue.
Antes de São Paulo, a dengue já seguia em alta no Brasil. Os casos cresceram 170% no país nas três primeiras semanas de 2024, de acordo com dados do Ministério da Saúde.
Quais os sintomas da dengue?
Após a fase inicial, que varia de dois a sete dias, a maioria dos pacientes sintomáticos apresenta uma melhora, especialmente na febre. Em casos leves de dengue, o ciclo infeccioso se encerra após esta etapa e o paciente se recupera. Entre os sintomas leves estão:
Eritema (manchas vermelhas semelhantes a alergia);
Dor no corpo;
Mialgia (dor muscular);
Fadiga;
Dor de cabeça;
Dor no fundo dos olhos;
Febre (superior a 38,5°C);
Perda de apetite;
Dor abdominal
“A incubação do vírus no organismo pode demorar de quatro a dez dias e, depois, começam os sintomas da primeira fase, também chamada febril, por ser caracterizada, principalmente, pela febre acima de 39ºC. Cansaço que não passa, náuseas, diarreia e surgimento de manchas ou erupções avermelhadas na pele, assim como dores musculares, nas juntas e atrás dos olhos, também são fortes indícios do estágio inicial da condição”, apontou Alberto Chebabo, infectologista do Bronstein, que faz parte da rede hospitais e laboratórios da Dasa, e vice-presidente da SBI (Sociedade Brasileira de Infectologia)
Sintomas da dengue que indicam a hora da emergência
Algumas pessoas podem progredir para o segundo estágio, chamado de fase crítica, aumentando o risco de desenvolver formas mais graves da doença. Entre os sintomas, de acordo com Chebabo, estão:
Sangramento na gengiva e no nariz, mesmo em casos que não são hemorrágicos;
Vômitos frequentes;
Diminuição da vontade de urinar;
Sensação de extremidades frias;
Taquicardia, quando o coração bate mais rápido;
Dor abdominal forte que não passa;
Tonturas;
Sensação de agitação ao longo do dia.
A fase crítica pode progredir rapidamente, aumentando o risco de morte. Portanto, se o paciente apresentar um ou mais desses sintomas, é recomendável procurar atendimento de emergência imediatamente para iniciar o diagnóstico e tratamento apropriados.
Prevenção contra a dengue
Uso de repelentes: utilize repelentes, especialmente em áreas com alto índice de casos confirmados da doença.
Vestimentas adequadas: ao sair de casa, vista roupas que cubram a maior parte do corpo, diminuindo a exposição à picada do mosquito.
Eliminação de criadouros: inspecione e elimine focos do mosquito Aedes aegypti, que geralmente se encontram em recipientes com água parada, como caixas-d’água, potes destampados e calhas de telhado.
Vacinação contra a dengue
Qdenga —a nova vacina disponível. A vacina Qdenga já está disponível como uma medida adicional de prevenção contra a dengue.
A vacina deve ser administrada em duas doses, com um intervalo de três meses entre elas.
Crianças menores de 4 anos, pessoas com mais de 60 anos, gestantes, lactantes, imunossuprimidos ou com o sistema imunológico comprometido não são elegíveis para receber a vacinação. Nesses casos, é fundamental redobrar a atenção aos outros métodos de prevenção mencionados.
Alta procura e falta da vacina
A procura pela vacina Qdenga aumentou significativamente no setor privado de imunização desde outubro de 2023.
Em novembro, foram administradas 1.955 doses; em dezembro, 2.341; em janeiro de 2024, 4.923 doses.
Os dados, provenientes de cerca de 280 clínicas particulares do Brasil, mostram que de julho de 2023 a janeiro de 2024, 13.290 doses foram aplicadas. No entanto, algumas clínicas relatam escassez do imunizante em algumas regiões devido à alta demanda. A fabricante Takeda prioriza as doses disponíveis para completar os esquemas vacinais já iniciados pelo governo.
Por que algumas pessoas se sentem cansadas o tempo todo? (via g1)
Costumo ser rigorosa com a minha rotina, especialmente em relação ao sono.
Eu me preparo para dormir muito antes de começar a me sentir cansada. Coloco meu pijama, escovo os dentes e faço uma rotina de limpeza da pele muito cuidadosa.
Deixo o celular na sala de jantar, onde ele costuma passar a noite, e me retiro para o quarto – calmo, suavemente iluminado e com temperatura perfeita – para rabiscar rapidamente alguma coisa no meu diário da gratidão.
Segue-se meia hora de leitura de ficção, até que apago as luzes lá pelas 11 horas da noite.
Oito horas e meia depois, meu despertador toca e eu acordo me sentindo… cansada.
Dormir mais de 8 horas é preguiça? Sou um ‘grande dormidor’? Veja respostas e qual o tempo certo do sono reparador
Estou no início da meia-idade, pratico exercícios regularmente e, até onde sei, sou saudável. Por que, então, na maioria das manhãs, não consigo acordar com os olhos brilhantes e cheia de energia, depois de uma boa noite de sono?
Aparentemente, não sou a única nesta situação.
Uma meta-análise de 2023 examinou 91 estudos de três continentes e concluiu que um em cada cinco adultos em todo o mundo sofre de fadiga generalizada que dura até seis meses, mesmo não apresentando condições médicas conhecidas.
Nos Estados Unidos, 44% dos mais de mil adultos pesquisados pela Fundação Nacional do Sono em 2019 afirmaram que se sentem sonolentos entre dois a quatro dias por semana.
E uma pesquisa do instituto YouGov envolveu cerca de 1,7 mil pessoas em 2022 e concluiu que um em cada oito adultos britânicos se sente cansado “todo o tempo”, enquanto outros 25% estão exaustos “na maior parte do tempo”.
As mulheres têm mais probabilidade de se sentir fatigadas do que os homens, quer elas tenham filhos ou não. Esta mesma conclusão aparece em diversos estudos.
O cansaço é uma queixa “muito, muito comum” entre os pacientes da médica da família Rosalind Adam, que trabalha em Aberdeen, no Reino Unido, há mais de uma década.
A condição é tão comum que o Serviço Nacional de Saúde do Reino Unido tem sua própria sigla para ela: TATT (“Tired All The Time”, ou “cansado o tempo todo”, em português).
Mas, apesar da sua onipresença, a compreensão dos cientistas sobre a fadiga (incluindo suas causas, como ela altera o nosso corpo e o cérebro e sua melhor forma de tratamento) é incrivelmente limitada. Até a sua definição é complicada.
O cansaço é diferente do sono, que é “mais uma propensão a adormecer”, explica Adam.
“Os dois estão relacionados, é claro, mas a fadiga é muito mais multidimensional.”
Sono de má qualidade é um dos fatores que aumentam a sensação de fadiga — Foto: Freepik
“É uma espécie de conceito geral da sensação de cansaço”, afirma o professor de administração e comportamento organizacional Christopher Barnes, da Universidade de Washington em Seattle, nos Estados Unidos.
Ele estuda como a falta de sono afeta o ambiente de trabalho.
“E existem muitas formas de nos sentirmos cansados”, prossegue o professor.
Existe, por exemplo, a fadiga física, que você pode sentir depois de uma longa caminhada ou de uma sessão particularmente extenuante na academia.
“Esta é a fadiga fisiológica normal”, explica Vicky Whittemore, diretora de programas dos Institutos Nacionais de Saúde em Bethesda, no Estado americano de Maryland. Ela estuda a biologia da fadiga.
“Ela é fácil de compreender e as pessoas vêm estudando a fadiga muscular há muito tempo”, explica Whittemore.
Mas a fadiga pode também englobar um aspecto emocional e cognitivo. Isso explica por que, quando estamos cansados, podemos sentir nevoeiro cerebral, ter dificuldade para fazer as coisas ou cochilar em meio às outras pessoas.
Somente na última década, os cientistas conseguiram estudar mais a fundo essas outras formas de fadiga, graças aos avanços da tecnologia de formação de imagens e dos testes bioquímicos que nos permitem estudar as mudanças cerebrais em tempo real, segundo Whittemore.
“Estamos apenas começando a compreender a neurobiologia e quais partes do cérebro percebem a fadiga”, afirma ela.
Outra dificuldade é o fato de que a fadiga é incrivelmente subjetiva e pode surgir por inúmeras razões. Ela é um sintoma de muitas doenças e condições crônicas, incluindo câncer, esclerose múltipla, covid longa, depressão e encefalomielite miálgica. Mas pode também ter outras causas, de menor gravidade.
“É absolutamente importante diferenciar o cansaço relacionado ou não a doenças”, orienta Adam.
Ela também é professora da Universidade de Aberdeen, onde lidera um estudo em andamento sobre os impactos da fadiga sobre pacientes com mieloma, insuficiência cardíaca e covid longa.
“Acho que, se conseguirmos diferenciar diversos tipos de fadiga, poderemos tratá-los de formas diferentes e oferecer soluções mais personalizadas”, afirma Adam.
A quantidade de sono necessária para os adultos varia de uma pessoa para a outra. A maioria de nós precisa de pelo menos sete horas de sono por noite.
Especialistas recomendam sete a nove horas.
Os benefícios de dormir por tempo suficiente são relembrados para nós o tempo todo. Sem esse tempo de sono, nossos corpos não conseguiriam reparar os músculos, aumentar a imunidade, regular as emoções e consolidar as memórias e novas informações, entre outras funções fundamentais.
Pessoas fatigadas por longos períodos apresentam risco de morte acima da população em geral, além de maior risco de ansiedade e depressão.
No dia a dia, o repouso inadequado pode resultar em dores de cabeça e em outras partes do corpo, além da sensação de irritabilidade, mau humor e falta de concentração. E esses efeitos, muitas vezes, acabam invadindo outros setores da vida, como nossos relacionamentos.
“A literatura sobre o sono e a satisfação conjugal nos ensina que, quando uma pessoa em um casamento fica privada de sono, os conflitos entre o casal aumentam”, afirma Barnes.
A fadiga também pode prejudicar o ambiente de trabalho, causando repercussões sobre o desempenho e a chefia.
Barnes foi o primeiro pesquisador a examinar como os chefes privados de sono são mais propensos a maltratar seus funcionários, com comportamento hostil, verbal ou não verbal.
“Eles vão para o trabalho com menos autocontrole e são mais propensos a praticar o que chamamos de ‘supervisão abusiva'”, afirma ele.
O pior é que a fadiga pode ter resultados devastadores. No Reino Unido, o cansaço é a principal causa de 20% dos acidentes verificados nas principais rodovias.
E erros humanos relacionados à fadiga ou perda de sono já foram verificados, ao lado de outros fatores, em diversos desastres causados pelo homem, como o acidente com o ônibus espacial Challenger, em 1986, e o vazamento de petróleo do navio Exxon Valdez no Alasca, em 1989.
“A fadiga no setor de [extração de] petróleo e gás, onshore e offshore, já resultou em catástrofes significativas, perda de vidas, questões econômicas e problemas ambientais que ainda nos afetam”, afirma a professora de engenharia industrial e de sistemas Ranjana Mehta, da Universidade de Wisconsin-Madison, nos Estados Unidos, que estuda a fadiga ocupacional.
Mas dormir por tempo suficiente é apenas uma parte da equação. A qualidade do sono também é importante, talvez mais do que a quantidade.
“É melhor ter menos horas de sono contínuo do que mais horas de sono interrompido”, afirma Whittemore. “Você se sente muito menos renovado se o seu sono sofrer interrupções.”
Isso ocorre, em parte, porque, quando dormimos, nosso cérebro desliga processos externos. Os neurônios em repouso criam espaço para que o fluido cerebroespinhal, que normalmente rodeia o cérebro, entre e retire os resíduos acumulados, como as placas pegajosas de beta-amiloide normalmente associadas ao Alzheimer.
É uma espécie de sistema de limpeza de resíduos que os cientistas chamam de sistema glinfático.
“Se o seu sono for interrompido ou disfuncional, ele prejudica todo esse equilíbrio”, explica Whittemore. “Menos toxinas serão retiradas do seu cérebro.”
É interessante observar que o nosso sistema glinfático trabalha melhor no mesmo horário todos os dias, segundo o psicólogo do sono Daniel Jin Blum, professor assistente de pesquisa da Universidade de Nova York em Xangai, na China.
“Por isso, se você comparar a mesma quantidade de sono profundo no horário normal e oito horas mais tarde, a capacidade de retirar toxinas fica significativamente comprometida”, explica ele.
Ou seja, o horário em que fechamos nossos olhos é importante. Sincronizar o sono com o nosso ritmo circadiano – o relógio interno do cérebro que regula o ciclo de 24 horas de sono e vigília – possibilita repouso de melhor qualidade.
Isso explica por que o trabalho em turnos costuma ser associado a más condições de saúde, que variam desde azia até diabetes.
“Entre outras coisas, se você conseguir as mesmas oito horas de sono, mas não durante o período circadiano regular, você quase não consegue sono REM e não está realmente colhendo os benefícios”, afirma Blum.
Ele se refere ao quarto e último estágio do nosso ciclo de sono, caracterizado por movimentos rápidos dos olhos (REM, na sigla em inglês). É nesse estágio que costumamos sonhar, fortalecer as conexões neurais e processar as emoções do dia.
Sono REM curto ou desregulado já foi relacionado à depressão, demência, Parkinson e outros problemas cognitivos.
Considerando os efeitos generalizados do sono de má qualidade sobre a nossa saúde, relacionamentos e trabalho, é importante tentar chegar às raízes de todo esse sofrimento.
Quando seus pacientes se queixam de fadiga persistente, a primeira medida de Rosalind Adam é eliminar qualquer possibilidade de causa médica.
Exames de sangue, às vezes, podem ser úteis para detectar distúrbios da tireoide ou desequilíbrios de estrogênio e outros hormônios. Estas condições são frequentemente relacionadas à sensação de fadiga, especialmente nas mulheres.
E os exames também podem revelar se você tem deficiência de certos nutrientes, como a vitamina B12 e D, folato e minerais, como ferro e magnésio.
“A deficiência de nutrientes desempenha papel substancial na contribuição para a fadiga”, afirma Geir Bjørklund, fundador da ONG norueguesa Conselho de Medicina Ambiental e Nutricional.
“Nutrientes essenciais, como vitaminas, sais minerais e componentes alimentares, são fundamentais para diversos processos fisiológicos, incluindo o metabolismo energético.”
Mas os exames de sangue só vão até aqui.
“Eles mostram resultados normais em 90% dos casos que observamos na assistência primária”, afirma Adam. “Por isso, é fundamental verificar o histórico clínico completo.”
“Em indivíduos saudáveis, procuramos a contribuição de fatores como exercício, sono, alimentação e saúde mental”, prossegue ela.
“Realmente, é questão de observar o indivíduo e o que pode ser importante para ele.”
Como exemplo, o paciente talvez tenha filhos pequenos, o que pode transformar o sono sem interrupções em um luxo inalcançável. E o estresse, particularmente, contribui muito para o aumento da fadiga.
Um estudo revelador de 2022, com mais de 16,2 mil funcionários governamentais chineses, concluiu que os profissionais que passaram por eventos negativos estressantes na vida apresentam possibilidade duas vezes maior de se queixar de fadiga posteriormente.
Quando estamos estressados, nosso corpo produz um hormônio chamado cortisol. Esse hormônio eleva nossa temperatura corporal, os batimentos cardíacos e nos prepara para enfrentar uma ameaça.
Os níveis de cortisol variam naturalmente ao longo do dia. Mas, quando eles permanecem elevados, fica mais difícil adormecer e manter o sono. É a sensação de estar “cansado, mas ligado”, como descreve Vicky Whittemore.
Como outras causas muito comuns de fadiga em pessoas saudáveis, Daniel Jin Blum indica os distúrbios do sono e problemas respiratórios.
Eles incluem o ronco, que ocorre quando as vias aéreas da pessoa estão total ou parcialmente bloqueadas.
“Todos os roncos são anormais e podem ser sinais de apneia do sono”, afirma ele.
A apneia do sono é um distúrbio que faz com que algumas pessoas interrompam e retomem a respiração repetidamente ao longo da noite.
Tudo isso pode prejudicar os padrões naturais do sono e dificultar o sono profundo, segundo Blum.
“As pessoas conseguem ter sete a nove horas de sono, mas de qualidade insuficiente.”
Outra causa importante de fadiga é a desidratação. E outros culpados comuns incluem a cafeína e o álcool.
“Acho que a maioria das pessoas subestima o tamanho do impacto [do álcool e da cafeína] sobre a qualidade do sono”, afirma Blum.
“A cafeína, por exemplo, possui meia vida de cerca de cinco horas, ou seja, mesmo quando você toma uma xícara de café ao meio-dia, um quarto dessa cafeína permanecerá [no corpo] até meia-noite.”
O álcool, especialmente perto da hora de dormir, também pode prejudicar a qualidade do sono de diversas formas – agravando problemas respiratórios, prejudicando o ciclo circadiano e bloqueando o sono REM.
“Muitas vezes, você talvez adormeça um pouco mais rápido durante aquele primeiro ciclo de sono e consiga um sono um pouco mais profundo”, explica Blum.
“Mas, depois disso, ele meio que nos faz voltar para o estágio de sono mais leve e nos faz despertar mais, além de criar novos picos de cortisol ao longo da noite.”
Por fim, Bjørklund explica que as orientações para aumentar a energia são basicamente aquilo que nossa mente racional já sabe.
“Adote uma alimentação equilibrada, cuide da deficiência de nutrientes, mantenha boa higiene do sono, controle o estresse com técnicas como mindfulness [atenção plena], pratique atividades físicas regularmente, hidrate-se adequadamente, considere intervenções terapêuticas como terapia cognitiva comportamental e forme uma rede de apoio”, orienta ele.
Mas é claro que implementar todas essas medidas é outra questão completamente diferente. Acho que reformular minhas rotinas já é um bom começo.
Leia a versão original desta reportagem (em inglês) no site BBC Future.
Mochila escolar pesada traz riscos para crianças, dizem especialistas (via Folha de SP)
A volta às aulas reforça a necessidade de atentar para o peso que as crianças carregam nas mochilas. Com o corpo em desenvolvimento, elas apresentam risco maior de problemas relacionados ao excesso de peso nas costas, como dor crônica, cifose postural (corcunda) e desgaste precoce.
Para saber se a mochila do seu filho está pesada demais, perceba se há mudanças na curvatura do corpo, na coluna ou na forma de andar. Também pode haver modificação na frequência respiratória, assim como pressão nos pés, causando incômodo e dor, reclamação frequente nos consultórios, como conta o ortopedista Luiz Muller, especialista em coluna.
O excesso de peso na mochila é a principal causa de dor nas costas entre crianças e adolescentes atendidos por ele no Hospital Pequeno Príncipe, referência em atendimento infantil. Segundo o médico, cerca de 20% das crianças e 30% dos adolescentes têm dor nas costas, o que impacta na qualidade de vida e no desempenho escolar.
Para compensar o peso da mochila, o aluno acaba jogando o corpo para frente, facilitando a cifose postural. “Cronicamente, a má postura é difícil de resolver na fase adulta, pois vira uma postura fixa, como um hábito, ligada à dor nas costas e à sobrecarga articular”, diz Muller.
Ele destaca que o corpo em crescimento precisa se readaptar ao novo tamanho constantemente e, assim, exige maior esforço. Por isso, o excesso de peso impacta mais nas crianças que nos adultos, que possuem maior capacidade muscular e esquelética de absorção de carga.
Além da coluna, o excesso de peso prejudica ombros, cervical, quadril, lombar, joelho e tornozelo, já que a sobrecarga atinge todo o esqueleto.
Peso ideal da mochila
De acordo com a Sociedade Brasileira de Ortopedia, a mochila não pode pesar mais do que um quilo quando vazia. Cheia, o peso não pode ultrapassar 10% do peso da criança ou do adolescente.
No entanto, é preciso considerar alguns aspectos, como sobrepeso. “Uma criança obesa, por exemplo, não pode carregar 10% do seu peso, que já está acima do ideal”, alerta Muller.
Também avalie quanto tempo seu filho precisará carregar o acessório e qual a distância do trajeto. Andar com a mochila do portão até a sala de aula tem menos impacto do que carregá-la durante um longo trajeto a pé ou de ônibus até a escola. Quanto maior o tempo carregando a mochila, menor deve ser seu peso, que também dependerá da idade, da altura e do sexo da criança.
“Falando de sistema locomotor, em geral, a menina é menor do que o menino, assim como seu tórax. Por isso é difícil definir um peso só para todas as crianças”, pontua Fernando Baldy dos Reis, presidente da Sociedade Brasileira de Ortopedia e Traumatologia (SBOT).
Sinais de que está muito pesada
Entre os sinais de que seu filho tem a mochila pesada demais está a dificuldade ou alteração na forma de andar e se abaixar quando a utiliza, ou quando vai colocá-la. Carregá-la apenas de um lado ou muito abaixo da cintura também deve acender o alerta.
O principal sinal será a manifestação de dor. “Ela desenvolve um quadro álgico, chamado de lombalgia ou dorsalgia, que ao persistir pode levar ao desenvolvimento de uma posição antálgica para se proteger da dor, que o leva a ficar torto para um lado ou para frente”, explica Baldy.
Soluções para uma mochila ideal
Além de reduzir o peso, é preciso ajustar bem a mochila nas costas. O ideal é que elas sejam carregadas nos dois ombros, estejam coladas ao corpo e ajustadas até a linha da cintura, orienta Baldy.
A forma de distribuir o material também conta. Deixe os mais pesados na parte de trás da mochila, em contato com o corpo, e envie para escola apenas o necessário para o dia.
São indicados cadernos que não sejam de capa dura (pois são mais pesados) e que sejam finos, um por matéria. Outra opção para não carregar tanto peso é o uso de armários —nas escolas que oferecem esta opção.
As cintas também devem ser utilizadas e ajustadas ao corpo, distribuindo o peso entre a coluna e a pelve. Alças mais largas distribuem melhor o peso, poupando os ombros, além de serem mais confortáveis.
Após descartar outras possíveis causas da dor nas costas, o ortopedista inicia o tratamento com orientação aos pais, para adequação e redução do peso, o que pode ser resolvido com uma mochila de rodinhas.
“Elas são confortáveis, úteis e fáceis de carregar”, como lembra Baldy, ressaltando que elas também precisam ser leves e ter o puxador adequado ao braço da criança, sempre na altura do quadril.
“Em casos mais agudos e graves, usamos medicação para dor, que tem efeito passageiro. Associado, recomendamos o fortalecimento muscular, com fisioterapia, ergonomia e exercícios físicos”, pontua Muller. “Hoje as crianças estão carregando mais peso e se movimentando menos, o que é preocupante.”