Estudos recentes têm mostrado que o hábito de comer em frente a dispositivos como celulares, TVs e computadores, embora comum na rotina moderna, pode trazer consequências indesejadas para a saúde.
Ao dividir a atenção entre a refeição e uma tela, adultos e crianças tendem a comer de forma menos consciente, o que dificulta a percepção de saciedade e aumenta o consumo calórico. Pesquisas, como uma realizada pela Universidade Federal de Lavras (UFLA), indicam que o uso de smartphones e até mesmo a leitura durante as refeições pode elevar a ingestão calórica em até 15%.
O problema vai além da quantidade de alimentos ingeridos: especialistas explicam que a distração durante as refeições compromete a chamada “memória alimentar”, fundamental para o cérebro processar adequadamente os sinais de fome e saciedade.
Neiva Souza, nutricionista e doutoranda em Neurologia e Neurociências pela UNIFESP, destaca que a formação dessa memória é essencial para evitar o consumo excessivo e manter uma relação equilibrada com a alimentação. “A falta de atenção impede que o cérebro registre os alimentos ingeridos, o que interfere na saciedade e favorece o consumo impulsivo de calorias”, explica.
Em crianças e adolescentes, a questão é ainda mais delicada, pois o uso frequente de dispositivos eletrônicos tem influenciado diretamente suas escolhas alimentares. Além de dificultar o entendimento da saciedade, o hábito de comer distraído pode aumentar a seletividade alimentar, um fator que pode ser associado a transtornos como ansiedade e depressão.
Luciano José Pereira, professor da UFLA, conduz estudos sobre o impacto das telas nas refeições infantis e ressalta que, embora o uso de smartphones e TV não tenha demonstrado alterar significativamente a ingestão calórica nas crianças, há efeitos na formação de hábitos alimentares seletivos e impulsivos.
Alimentação consciente
Para minimizar esses impactos, nutricionistas sugerem adotar práticas de “alimentação consciente”, ou “mindful eating”. Essa abordagem envolve realizar as refeições em um ambiente tranquilo, longe de telas, focando em cada detalhe do alimento — do aroma e cor à textura e sabor. Souza destaca que o “mindful eating” ajuda a reforçar a conexão entre corpo e mente, permitindo que o indivíduo perceba com mais clareza o momento de saciedade.