A cultura dos povos indígenas é rica em tradições e conhecimento. Isso se estende também ao cuidado com a saúde, de modo que as diversas práticas e os saberes compõem a chamada medicina indígena.
Essa sabedoria é transmitida entre as gerações, incluindo a relação com a floresta e com o meio ambiente. Entretanto, há desafios que precisam ser considerados como, por exemplo, os ataques predatórios à região da Amazônia.
Parte do conhecimento ancestral dos pajés e xamãs existe tradicionalmente apenas em sua versão oral, transmitido de geração em geração. Mas alguns povos indígenas passaram a registrar esses conhecimentos em seu próprio idioma e, às vezes, também em português.
É o caso do projeto “Manual dos remédios tradicionais Yanomami”, uma pesquisa intercultural empreendida pela Hutukara Associação Yanomami em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), lançada em 2015.
O trabalho foi transformado em uma exposição interativa e está disponível na plataforma do Google Arts and Culture.
Lá, o visitante pode conhecer, por fotos, vídeos, desenhos, depoimentos em áudio e textos, como o conhecimento tradicional sobre a medicina da floresta, patrimônio milenar do povo Yanomami e que sobreviveu à morte de muitos de seus portadores por conta de epidemias de sarampo e malária trazidas por invasores do território indígena.
A medicina indígena pode ser definida como o conjunto de saberes e práticas de povos indígenas ao longo das décadas e séculos. Esse conhecimento é repassado entre gerações e está ligado à cultura e às crenças de cada povo.
Também é importante notar que a medicina indígena não é única. Povos indígenas diferentes têm conhecimentos e práticas variadas, criando uma base de conhecimento diferente em cada região.
Outro ponto para considerar é que a medicina indígena não favorece apenas a saúde dos povos indígenas. Os conhecimentos que envolvem os elementos da natureza, muitas vezes, podem ser aplicados em conjunto com tratamentos diversos.
Uma pesquisa que contou com o suporte da Função de Apoio à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp) mostrou a eficácia dos remédios naturais indígenas. De acordo com o levantamento, os tratamentos com plantas ajudaram no alívio da dor de 64,5% dos entrevistados — contra 22,2% no caso da medicina tradicional.
Os demais conhecimentos desenvolvidos ao longo do tempo ainda podem servir de terapias complementares em uma abordagem científica, por exemplo. Inclusive, alguns desses ativos podem originar novos tratamentos.