Ela tem mais de 4 mil anos e afeta quase 30 mil brasileiros anualmente, segundo o Ministério da Saúde
do Jornal da USP
A hanseníase é uma doença milenar que ainda é motivo de preocupação para as autoridades públicas brasileiras. Afinal, a condição causada pela bactéria Mycobacterium leprae é endêmica no Brasil, sendo o segundo país no mundo em casos novos. Entre as estratégias recentes criadas para avançar no diagnóstico e educação em saúde sobre a doença está o Questionário de Suspeição de Hanseníase, que acaba de ser premiado pelo Ministério da Saúde no Edital de Mapeamento de Experiências Exitosas em Hanseníase no SUS.
A ferramenta, que pode ser acessada neste link, é de autoria do dermatologista e hansenologista Marco Andrey Frade, professor da Faculdade de Medicina de Ribeirão Preto (FMRP) da USP, e do aluno Fred Bernardes Filho, doutor pelo Programa de Pós-Graduação em Clínica Médica na unidade, com participação da equipe do Centro de Referência Nacional em Dermatologia Sanitária com Ênfase em Hanseníase do Hospital das Clínicas da FMRP (HC-FMRP).
“O instrumento foi desenvolvido, testado e aprimorado no nosso grupo e avaliamos que a aplicação aumenta 15 vezes a chance do diagnóstico precoce da hanseníase, acelerando assim o seu tratamento e evitando as sequelas incapacitantes da doença. Ou seja, representa um avanço no diagnóstico, porque também funciona como instrumento de educação ao levar informações sobre a hanseníase para além dos sinais cutâneos, verificando os sintomas neurológicos, como dormências, formigamentos, dores nos nervos e cãibras, tanto na comunidade quanto dentre os profissionais das equipes de saúde, explica Frade.
Ainda de acordo com o médico, o questionário de 14 questões objetivas pode ser uma ferramenta simples e econômica no rastreamento e ainda contribui para aumentar a consciência dos sinais e sintomas da doença. “A hanseníase é negligenciada e vem sendo subdiagnosticada, ou seja, os profissionais não estão preparados para pensar na hipótese quando o paciente tem pura e simplesmente formigamento, dormências, dores nos nervos e cãibras. Às vezes o paciente passa até 20 anos apenas com esses sintomas neurológicos sem pensar em tratar para hanseníase”, explica.
Os casos novos foram diagnosticados a partir da aplicação da ferramenta pelos agentes comunitários de saúde de Jardinópolis, cidade vizinha de Ribeirão Preto (SP). O resultado das análises das respostas na comunidade e dentre os casos que firmaram os diagnósticos foi publicado no artigo da Plos Neglected Tropical Diseases e aponta uma possível endemia oculta, que é quando uma doença é comum em determinada região, porém os dados epidemiológicos não demonstram oficialmente a endemia.
Além disso, o professor revela que a ferramenta foi adotada pelo Ministério da Saúde neste ano e já é usada em diversas regiões do País. “É importante ressaltar que, ao ser diagnosticado, o paciente inicia o tratamento com antibióticos fornecidos gratuitamente nas unidades de saúde pelo SUS e tem cura da doença, deixando de evoluir para quadros incapacitantes e de transmitir a doença na comunidade, interrompendo a cadeia de transmissão do bacilo da hanseníase”, afirma.
O projeto Questionário de Suspeição de Hanseníase: Um Instrumento Efetivo Para Educação em Saúde e Ações de Busca Ativa está entre os três mais bem ranqueados entre 47 experiências de todo o Brasil e, por isso, ganhou uma produção audiovisual no formato de documentário. A premiação foi concedida por um comitê formado por pesquisadores, membros da sociedade civil, profissionais da saúde e especialistas na doença por iniciativa do Ministério da Saúde.
Clique aqui ou no card abaixo para acessar o quiz:
Faraós, guerras históricas – como a de Troia – e a possível fundação do Reino de Israel e da cidade de Jerusalém. Tudo isso aconteceu há milhares de anos. Mas o que essa história [literalmente] tem a ver com hanseníase? Tudo.
Conhecida até pouco tempo atrás como lepra, há registros de casos dessa doença há pelo menos 4 mil anos. Seja na China, na Índia ou no Egito, ela está rodando o mundo faz um bom período.
A hanseníase é uma doença infecciosa causada por uma bactéria chamada Mycobacterium leprae, ou bacilo de Hansen, e é caracterizada pela aparição de manchas na pele. Há dois tipos: paucibacilar (com poucos bacilos) e multibacilar (muitos bacilos).
Se é tão antiga, por que há, então, tanto preconceito? Já não deu tempo de as informações sobre a hanseníase chegarem sem filtros às pessoas?
Tocar a pele do paciente não transmite a hanseníase. Segundo a Sociedade Brasileira de Dermatologia (SBD), a transmissão da hanseníase se dá por meio de convivência muito próxima e prolongada com o doente que não se encontra em tratamento, seja por contato com gotículas de saliva ou secreções do nariz. Cerca de 90% da população têm defesa contra a doença.
Sintomas
Tratamento
Tanto a paucibacilar quanto a multibacilar são tratadas com o antibiótico rifampicina. São 6 meses de tratamento para o tipo paucibacilar e 1 ano para o tipo multibacilar. O paciente precisa tomar a medicação na presença de profissionais de saúde, de acordo com normas da Organização Mundial da Saúde (OMS).
Prevenção e diagnóstico
Segundo a SBD, para prevenir a doença, as pessoas precisam ter hábitos saudáveis, alimentação adequada, evitar o álcool e praticar atividade física associada a condições de higiene.
O diagnóstico é feito pelo médico e envolve a avaliação clínica dermatoneurológica do paciente, por meio de testes de sensibilidade, palpação de nervos, avaliação da força motora etc.
A melhor forma de prevenção é o diagnóstico precoce e o tratamento adequado, assim como o exame clínico e a indicação de vacina BCG para melhorar a resposta imunológica dos contatos do paciente. Desta forma, a cadeia de transmissão da doença pode ser interrompida.
Médico da SBD fala sobre a doença
Conteúdo baseado em da SBD e do site do Drauzio Varella