Uma das estratégias mais recentes para o tratamento de doenças inflamatórias intestinais (DII), como a colite ulcerativa e a doença de Crohn é analisada em pesquisa do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP.
Em um trabalho de revisão de artigos científicos, os pesquisadores verificaram que o medicamento Adalimumabe, em testes com animais, conseguiu reduzir sintomas e levar ao desaparecimento da colite ulcerativa. O medicamento, que age sobre a citocina Fator de Necrose Tumoral alfa (TNFa), proteína responsável pela atividade das células de defesa e que promove a inflamação no intestino, conseguiu recuperar as células do sistema nervoso entérico envolvidas no funcionamento do órgão.
O estudo mostra que a incidência de DII, distúrbios que afetam o sistema digestório, é crescente no Brasil, especialmente nos Estados de Minas Gerais e São Paulo. Nas áreas urbanas ocorrem 90% dos casos, possivelmente devido a mudanças no padrão de vida nas últimas décadas.
“A doença de Crohn, assim como a colite ulcerativa, é uma doença inflamatória intestinal (DII), distúrbio que afeta o sistema digestório”, explica a professora Patricia Castelucci, do Instituto de Ciências Biomédicas (ICB) da USP, uma das responsáveis pela pesquisa. “A colite é caracterizada por uma complexa relação entre fatores genéticos, imunológicos, ambientais e da própria microbiota intestinal, que resultam em um desequilíbrio nos mecanismos de defesa do organismo, levando a uma resposta imune exagerada e inadequada”.
“Os pacientes apresentam desequilíbrios das funções intestinais, acompanhada de perda de peso e diarreia com sangue, porém, a doença de Crohn se distingue pela ocorrência de um distúrbio segmentar que pode afetar todo o trato gastrintestinal”, observa a professora. “O levantamento de dados sobre a ocorrência de DII aponta que no Brasil não se pode mais considerar essas doenças como raras, levando em conta o aumento gradual de suas frequências nos últimos anos, onde é chamada a atenção para os Estados de São Paulo e Minas Gerais”.
De acordo com Patrícia Castelucci, principalmente no Estado de São Paulo, as pesquisas demonstram que 91% dos casos de DII estão associados a pessoas de etnia branca e 90% dos casos aconteceram em áreas urbanas. “Isso mostra que as incidências da doença podem estar relacionadas a mudanças no padrão de vida nas últimas décadas”, aponta. “As estratégias de tratamento incluem medicamentos direcionados a receptores associados ao controle da dor, opioides, serotoninérgicos, dopaminérgicos e colinérgicos, em um esforço para melhorar os sintomas relacionados à doença”.
“Quando o tecido é acometido por lesão ou doenças e está em desequilíbrio, uma resposta imunológica é regulada por uma série de enzimas e citocinas, entre elas o Fator de Necrose Tumoral alfa (TNFa), que desempenha papéis importantes na promoção da inflamação, inclusive nos casos de DII”, relata a professora do ICB. “A pesquisa analisou em camundongos os efeitos da colite ulcerativa experimental e o tratamento com o anti-TNFa (Adalimumabe) nas classes neuronais que compõem o sistema nervoso entérico, como os neurônios motores excitatórios envolvidos na contração intestinal e os neurônios motores inibitórios envolvidos no relaxamento da víscera”.
Segundo os pesquisadores, a aplicação de anticorpos visando a neutralização do TNFa em pacientes com DII induziu a redução ou desaparecimento da doença em grande parte dos pacientes. “O Adalimumabe foi o medicamento testado no estudo, demonstrou eficácia e segurança no tratamento da colite ulcerativa moderada à grave”, descreve Patrícia Castelucci. “A remissão clínica foi observada em aproximadamente 40% dos pacientes na 8ª e 26ª semana, e em quase um quarto dos pacientes após um ano de acompanhamento, porém não havia ainda sido descrito o efeito sobre as diferentes classes dos neurônios entéricos”.
“O tratamento no estudo experimental foi eficaz na recuperação dos animais referente à perda de peso, consistência das fezes e sangue nas mesmas, características clínicas encontradas em pacientes que sofrem com colite ulcerativa’, destaca a professora. “Além disso, as classes neuronais que compõem o intestino se recuperaram com o uso do medicamento”.
A pesquisa foi realizada por Roberta Figueiroa de Souza, doutoranda do Programa de Pós-graduação de Biologia de Sistemas do ICB. O estudo teve a colaboração do pesquisador Felipe Alexandre Machado e da professora Patricia Castelucci, do Departamento de Anatomia do ICB.
O artigo de revisão Study of tumor necrosis factor receptor in the inflammatory bowel disease foi publicado na revista científica World Journal ou Gastroenterlogy em maio de 2023. O trabalho teve apoio da Coordenadoria de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior (Capes), do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq) e Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo (Fapesp).
O que são as DIIs e como prevenir
Doenças inflamatórias intestinais (DIIs) são condições crônicas que afetam o trato gastrointestinal e podem incluir doença de Crohn e colite ulcerativa.
Essas doenças afetam milhões de pessoas em todo o mundo, e as causas exatas ainda não são totalmente compreendidas. No entanto, há evidências crescentes de que a dieta e o estilo de vida podem desempenhar um papel importante na prevenção e no controle dessas doenças.
Aqui estão 5 dicas para ajudar a prevenir DIIs: